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Sobre Corsets e Opressão Estética Feminina

Olá meninas, hoje no Facebook a Sher, da grife Madame Sher Corsets, postou um texto bem bacana que achei válido colocar por aqui .....


Quando citei o fato de que atualmente o padrão das meninas de manequim 36 era ter 71cm de cintura foi me referindo à proporção corporal em voga atualmente. Trabalho com muitas modelos e bailarinas, então me deparo com frequência com esses números. Não defendo a perseguição de um manequim como esse, que seria nada saudável fisicamente para a maioria das mulheres. Eu mesma quando usava manequim 36 (era naturalmente magra, não fazia dieta) e mesmo assim desmaiava com qualquer coisa.

Acho errôneo linkar o TL nos dias de hoje com a obsessão com a magreza, visto que essa pratica ajuda justamente as mulheres que não são magras a aceitarem melhor seu corpo. Assim que uma mulher conquista uma proporção mais harmônica, se sente mais segura e feminina, e deixa de acreditar que precisa ser magra para ser uma mulher desejável. Não digo isso baseada em achismos, digo pela minha experiência diária, de alguém que trabalha quase que exclusivamente com mulheres, ouve as inseguranças, os exageros, as neuroses e, acompanha todo um processo de transformação física.

Minha postura em fazer apologia ao TL esta mais ligada a uma negação do padrão atual de beleza em que as mulheres buscam corpos masculinizados. Usam peças de roupa que nada colaboram para a saúde e estética feminina, como calças jeans de cintura baixa por exemplo, que além de atrapalharem a necessária ventilação do aparelho reprodutor feminino, ainda comprimem todo conteúdo dos flancos e quadris numa tentativa de fazer a silhueta feminina mais andrógina. O tiro sai pela culatra, ou melhor, pela cintura, que acaba sendo o único lugar do corpo que não sofre nenhuma pressão e consequentemente acumula o tecido adiposo que naturalmente se depositaria nos quadris e bumbum.

Não sou defensora de extremos, inclusive no tight-lacing, tanto que já perdi as contas de quantas vezes me recusei a fazer corsets com proporções bizarras. Mas temos que ter bom senso em não confundir as coisas, uma mulher que faz um pouco de TL para corrigir o trabalho do jeans de cintura baixa é equivalente a uma mulher que cuida da dieta afim de manter um corpo harmonico e saudável. Agora uma mulher que se escraviza a um padrão de cinturas finíssimas, essa sim pode ser comparada a uma anorexica.

Agora com relação ao corset, no passado ter sido uma peça símbolo da opressão masculina sobre as mulheres, há controvérsias. Seriíssimas aliás! Infelizmente aqui no Brasil a literatura em torno do espartilho quase inexiste. Em livros de história da moda, tudo que encontramos são relatos muito superficiais. Terrivelmente superficiais, e com (pasmem) um pré-julgamento já embutido.

Quem já teve a oportunidade de ler literatura especializada sabe que os homens sempre protestaram contra o uso do corset, especialmente os médicos da época, que colocavam na conta do espartilho todo e qualquer ‘mal’ que acometesse as mulheres.
A moda dos corsets surgiu na corte por influência das mulheres (podemos citar como principal exemplo Catherine de Medici), e foi mantida não sem algum esforço, pelas próprias mulheres, afinal era um artifício para “estender” uma imagem de juventude.

Acredita-se que muitas mulheres  aderiram ao TL abusivo no período vitoriano, mas isso é mito. A maioria dos corsets com cinturas minúsculas encontradas nos museus tem em torno de 60cm. A impressão que temos de que as cinturas eram absurdamente pequenas existe devido ao contraste com as saias muito armadas. Os casos de TL abusivo da época, eram muito menos frequentes que os de anorexia hoje em dia.

Com relação ao período vitoriano, apesar de ter existido uma certa romantização da fragilidade feminina, não podemos deixar de citar que foi um período em que o feminino enquanto conceito foi muito valorizado na arte. Acho que ele merece um carinho especial.

Os corsets vitorianos por exemplo reverenciavam a barriguinha feminina, tida como atributo maternal. Também foi um período em que a importância dos exercícios físicos começou a ser amplamente divulgada, e as mulheres iniciaram nos esportes (mesmo que com restrições).

Uma informação errônea é essa de que a abolição do uso dos corsets foi um feito ‘feminista’, eu realmente preferia acreditar nisso, mas infelizmente sei do outro lado. A indústria de roupas de baixo estava propagando uma nova moda a fim de vender melhor os novos produtos sem o precioso metal (que estava sendo investido em tanques e armamentos de guerra) e substitui-lo de vez pelo elástico. A indústria nunca perdeu a oportunidade de aderir falsamente uma causa, quando esta se mostrava capaz de ajudar a aceitação de qualquer produto no mercado.
Mais uma vez as mulheres foram manipuladas com maestria, agora que o trabalho pesado delas era necessário para cobrir a falta que os homens, ocupados na guerra, faziam no mercado, levantava-se um ideal se valorização da força feminina.

Hoje em dia o uso do corset vem totalmente na contramão, mas uma análise completa nesse sentido seria um trabalho antropológico que não vai rolar fazer rapidinho por aqui.

Enfim, espero que tenha conseguido explicar, e deixo claro que estou aberta a críticas.

p.s.: Não procede o argumento de que digo as coisas para fazer marketing. Eu já recusei todas as propostas que tive para fazer ‘marketing de verdade’ que tive. Aliás, recusei todas as propostas de abrir lojas em shoppings e transformar a corseteria na nova(velha) moda de opressão as mulheres, isso porque prezo que sejam minhas clientes apenas as mulheres que se interessem de ir atrás da informação. Sei que é normal me lerem assim, afinal por eu ter uma empresa, logo pode parecer que sou uma desesperada para vender, mas se assim fosse, eu já seria uma magnata dos espartilhos, oportunidades não me faltaram. Acho que boa parte de vocês consegue imaginar a quantidade de pessoas poderosas e investidores eu conheci na minha empreitada pelo mundo da moda e TV.

autora: Leandra Rios - Madame Sher 
fonte: http://on.fb.me/PGEPkt


PARA COMPLETAR


Uma breve história dos corsets, seus mitos e controvérsias
• Freedom in constriction: The corset as form of female liberation
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2 comentários:

  1. Achei ótimo ela falar que as cinturinhas minúsculas do período vitoriano são mito! Já estava na hora de alguém super conhecido falar disso pra um público grande.
    A maioria das "mini medidas" de cintura dos anúncios da época eram falsas, o famoso marketing. Eram medidas idealizadas e não significava de forma alguma que as mulheres tinham aquelas medidas. E assim como hoje, fetichistas tight lacers eram raras naquela época e somente elas poderiam ter as mini cinturas. As saias armadas e ombros estruturados da moda do século 19 davam a impressão de a cintura ser menor do que era.

    Outra coisa que adorei ela falar foi da questão que a Moda é um reflexo da época em que se vive (a questão da guerra e da necessidade de substituição de materiais), mas não se pode esquecer de jeito nenhum da influência de Chanel e das primeiras feministas nisso tudo para popularizar a idéia entre as mulheres. Claro que houve certa manipulação do mercado, como ainda há hoje em moda, mas também houveram mulheres que popularizaram a queda do espartilho e também as questões comportamentais, afinal o conservadorismo vitoriano estava em decadência e uma idéia de "cutir a vida livremente" estava em voga com o surgimento da industria do entretenimento. ^^

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  2. Amei absolutamente o texto!

    Fico cada vez mais fã da Madame Sher e ultra orgulhosa por ter comprado meu corset com ela, e não ter me enganado com os Xing-Lings por aí.

    Só mostra que ela não só faz uma trabalho de arte, como realmente entende do que faz.

    Muitas e muitas palmas!!

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